28 May 2008

Jornalistas do Pantanal criam serviço gratuito para rádios e internautas

Imagem: Salvador Dali

Os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e, especialmente, o Pantanal acabam de ganhar novos aliados na defesa da natureza: jornalistas profissionais e comunicadores ambientais do NEM (Núcleo de Ecojornalistas ou Ecomunicadores dos Matos). Criado em 2005 por jornalistas dos dois Matos Grossos (MT e MS), o NEM acaba de lançar um projeto inovador de comunicação socioambiental para a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP). A idéia é democratizar informações socioambientais que promovam a cidadania ecológica e a melhoria da qualidade de vida das populações do Pantanal.

Com apoio da União Mundial para a Conservação da Natureza da Holanda (IUCN NL) e do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), o projeto "Rádio Ecologia: uma ferramenta educacional para promover a qualidade de vida na Bacia do Alto Paraguai" vai disponibilizar 32 programas radiofônicos temáticos para municípios da bacia pantaneira (BAP). O novo serviço de comunicação ambiental é gratuito e voltado para rádios e organizações que utilizam a internet como ferramenta de trabalho e educação ambiental.

O projeto

O projeto foi uma das propostas vencedoras do edital Ecosystems Grant Programme (EGP – Programa de Financiamento para Ecossistemas) lançado em 2007 pela IUCN NL. Com duração de 14 meses e apoio financeiro de 53.669 Euros, o NEM vai produzir o programa radiofônico Boca da Mata, que divulgará conteúdos informativos, de educação ambiental, cidadania, utilidade pública e também a primeira radionovela ecológica do Pantanal. Toda semana, rádios da bacia pantaneira receberão os programas e poderão divulgar os conteúdos sem qualquer custo. Internautas e rádios de outras localidades que se cadastrarem no site do NEM (em construção) também poderão fazer o download e utilizar os conteúdos gratuitamente.

"Nossa expectativa é que as demandas por informações ambientais, principalmente de rádios dos municípios do Pantanal no Brasil, Bolívia e Paraguai, sejam atendidas com este novo serviço de comunicação", afirma o coordenador-geral do projeto, Allison Ishy. Segundo um mapeamento realizado pelo Programa Pantanal do Ministério do Meio Ambiente o rádio é o veículo de comunicação com maior alcance na região pantaneira e a maioria das emissoras tem interesse em receber e divulgar informações ecológicas.

Uma das vantagens para as rádios que utilizarem o novo serviço são os conteúdos já finalizados profissionalmente em linguagem radiofônica, além da permissão de reprodução total ou parcial das informações, o que dá maior liberdade aos veículos de comunicação. O programa Boca da Mata também pretende ser um serviço de utilidade pública em educação, saúde, cidadania e meio ambiente voltado para os pantaneiros e população da BAP.

O NEM

O Núcleo de Ecojornalistas ou Ecomunicadores dos Matos, atualmente formado por oito membros dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também será estruturado com o Projeto Rádio Ecologia, criando sua personalidade jurídica, estatuto, regimento interno e devendo funcionar como uma Organização Não-Governamental (Ong). O NEM é a primeira organização de jornalistas e comunicadores ambientais criada na região.

Além de promover o intercâmbio, troca de experiências e desenvolver projetos de jornalismo e comunicação socioambiental, o núcleo está convidando artistas, poetas, fotógrafos, ilustradores e chargistas, além de educadores e lideranças que atuam com a comunicação socioambiental nos Estados para serem membros da organização.

Universidades, sindicatos, Ongs, instituições de pesquisa e governamentais também serão convidadas para serem parceiras do núcleo e de suas atividades.

A criação do NEM ocorreu em Santos (SP) durante o I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (2005) com apoio do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), que também é o proponente do projeto "Rádio Ecologia: uma ferramenta educacional para promover a qualidade de vida na Bacia do Alto Paraguai".

Mais informações

Para saber mais sobre o serviço de comunicação socioambiental as rádios ou internautas poderão solicitar informações pelo e-mail: ecomunicadores@gmail.com


Por Allison Ishy, coordenador-geral do Projeto Rádio Ecologia (NEM / NEJ-RS / IUCN NL)

E-mail para contato: ecojornalistapantanal@gmail.com

30 April 2008

O caos das águas da jovem Morena


Quando as nuvens cinzas cobrem o céu de Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul, o prefeito Nelsinho Trad já sabe que terá dores-de-cabeça. O sistema de drenagem da cidade não está agüentando a velocidade das águas que correm pelas ruas largas. Na região do córrego Prosa, área da cidade que dá acesso ao shopping, órgãos públicos do governo e parques instaura-se a cada chuva um caos imediato e surpreendente pela rapidez de sua materialização. Assim como nas regiões mais periféricas, em que o grande problema são as voçorocas abertas em minutos pela força das enxurradas.

Na última terça-feira, 29 de abril, na região do Prosa, em menos de dez minutos do início da chuva, as ruas já estavam completamente alagadas, os bueiros jorrando água como extintores desgovernados e as ruas assemelhando-se aos rios de águas velozes. Uma situação que causa medo de sair de casa quando as nuvens se anunciam. Após cada chuva, a prefeitura da cidade recomeça as obras de contenção das águas, que desde o início do verão vem sendo implementadas. A sensação é que o dinheiro público desce rio abaixo e enche o mar do mal planejamento ambiental do espaço urbano.

Desta vez, a chuva não durou mais de meia hora na capital e as águas dissiparam-se em direção aos córregos que deram conta de escoar a chuva torrencial. A mesma sorte não teve o aposentado Dionísio Ferreira que, ao voltar do trabalho em sua bicicleta, dia 1 de abril, foi surpreendido por uma tempestade que durou cerca de 1h50. A força da água foi tanta que levou parte do asfalto e prendeu a perna do aposentado. Ele não conseguiu se livrar e morreu afogado em plena rua. Foi a primeira vítima da drenagem mal elaborada.

Cenas de um caos urbano que marcam o passado e o presente desta jovem cidade, ainda com ares de interior, nascida na confluência dos córregos Prosa e Segredo, em 1872. Seu crescimento deu-se de forma radial, no sentido das nascentes dos pequenos córregos. Assim, sobraram poucas matas ciliares, hoje vias rápidas para os carros e para água. Cenário agravado pelo calçamento e desmatamento no perímetro urbano.

Mas isto não é novidade, o campo-grandense está acostumado a ver na tela da TV as intempéries em outras regiões do país como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas em uma moderna cidade que cresceu à luz das leis de uso ocupação do solo...O que será de Campo Grande com um milhão de habitantes? Hoje são pouco mais de 720 mil. A população ainda se gabará de sua "qualidade de vida"? Terá vencido o desafio de diminuir sua frota de veículos, que está entre as maiores do país? Terá deixado de calçar cada milímetro dos quintais para esconder a terra vermelha que dá lhe o apelido de cidade Morena?

Desejar a seca poderá ser o futuro do campo-grandense. Mas o que será pior: as queimadas insolentes responsáveis pelas filas intermináveis nos postos de saúde na época da seca? Ou a insegurança urbana, conseqüência de uma drenagem ineficaz, agravada pelo calçamento do solo? O prefeito tem mesmo com o que se preocupar, das chuvas poderá esquecer por um tempo, a seca está chegando e com ela as queimadas. Então, já teremos esquecido o caos das águas e desejaremos as chuvas do próximo verão...

Yara Medeiros é jornalista e membro-fundadora do Núcleo de Ecojornalistas dos Matos

15 April 2008

Pantanal sentenciado


Carvoaria irregular autuada no município de Jardim em 2007. Foto: Polícia Militar Ambiental






Decisão judicial vai contra realidade dos fatos
A falta de planejamento, de diálogo e responsabilidade socioambiental se fez presente mais uma vez em Mato Grosso do Sul, quando a Justiça estadual autorizou o não cumprimento do Termo de Compromisso e Conduta (TCC). Com ele ficou proibida a compra de carvão vegetal de sete municípios localizados na Bacia do Alto Paraguai (BAP) - Corumbá, Ladário, Miranda, Bodoquena, Bonito, Jardim e Guia Lopes. É inaceitável que em 2008 uma decisão judicial coloque o Pantanal em risco. Ainda mais porque, há quatro anos, a perda da sua vegetação nativa vem sendo anunciada.

Os alertas de que o Pantanal está perdendo sua vegetação nativa começaram em 2005, com um estudo da Conservação Internacional (CI). A publicação anunciava a possibilidade do Pantanal acabar em 45 anos. Pareceres de 2006 da Embrapa Pantanal, do Ministério Público Federal e os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) realizados pelas empresas, com a finalidade de adquirir as licenças ambientais, evidenciavam que haveria uma pressão sobre a mata nativa. Neste ano, a CI revela, em novo estudo, que além de faltar carvão vegetal para atender a demanda das siderúrgicas de MS, o produto está sendo contrabandeado da Bolívia e Paraguai.

Parece que todas essas informações não são suficientes para alertar nossos governantes. Pois uma boa iniciativa entre órgãos públicos voltados a gestão ambiental não é respeitada, é simplesmente ignorada. Embora o TCC não resolva todo o problema, pois cerca de 80% do carvão produzido é vendido para Minas Gerais, nos últimos meses ele vem contribuindo para conter o desmate direto no Pantanal e na Serra da Bodoquena. Mas esta é uma primeira ação, só o começo, onde os outros setores deveriam agregar para tornar a iniciativa cada vez mais efetiva e não o contrário.

“É necessário que todos os setores ampliem sua visão para além do lucro e da produção. É preciso que todos tenham uma visão integral do ecossistema e reconheçam que a vegetação nativa do Pantanal e da Serra da Bodoquena está virando carvão e que esta perda trará prejuízos para muitos, praticamente todos”, afirma Patrícia Zerlotti, jornalista e coordenadora de projetos da Ecoa.

Alessandro Menezes, presidente da Ecoa, explica que a legislação atual não é aplicada ao Pantanal. “Um exemplo que deixa claro esta discrepância é o Código Florestal, que se for seguido a risca, classifica toda área alagável da região como Área de Preservação Permanente (APP). Ou seja, nenhuma atividade econômica poderia ser desenvolvida. Devido a este cenário é preciso uma legislação específica para o bioma. As interpretações que se fazem hoje da lei são baseada no Código Florestal, o que acarretam em vários equívocos que geram prejuízos ambientais, sociais e econômicos”.

ONGs e o desenvolvimento responsável
É importante ressaltar que as organizações ambientais que atuam no Pantanal não são contra o desenvolvimento econômico como é colocado pelo escritório de advocacia Vanessa Lopes, na notícia veiculada no site O Eco, no dia 11 de abril. As organizações, apenas, trabalham para que a legislação ambiental seja respeitada e que a economia se desenvolva em equilíbrio com as demais necessidades, ou seja, sem degradar o meio ambiente e prejudicar a população.

Outra iniciativa que demonstra a seriedade das organizações ambientais com o desenvolvimento econômico da região é o diálogo entre ongs e empresas de mineração e siderurgia de MS. Este processo mostra que as ongs não são contra o desenvolvimento e o progresso como dito por aqueles que não compreendem o significado do desenvolvimento sustentável na prática.

Confira os estudos mencionados no texto e outras informações no site www.ecoa.org.br

31 January 2008

A farra do desmatamento

Há tempos a mídia estava ávida pelos dados que o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) divulgou na semana passada. O desmatamento voltou a correr solto na Amazônia. Junte-se a isto a convocação imediata pelo presidente Lula para debater o assunto e as medidas anunciadas pelo Ministério do Meio Ambiente para controlar de forma mais rígida os 36 municípios (19 em Mato Grosso) responsáveis por 50% do estrago na Amazônia, que foram mal interpretadas por boa parte da mídia e dos ruralistas. Pronto. Temos o cenário perfeito para confusões e ataques.

O primeiro a esbravejar foi o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, questionando os números divulgados e a credibilidade do Inpe e acusa o governo federal de querer só ver a culpa nos produtores rurais. Lula por sua vez acusa o Inpe e o MMA de terem se precipitados e diz não ser possível culpar ninguém pelo desmate. Já a ministra Marina Silva, que sobrevoou com Maggi e outros ministros algumas das áreas devastadas em Mato Grosso, afirma que a situação é preocupante.

A troca de acusações e o jogo de empurra tiraram da discussão o que deveria ser o seu centro. Como conter o avanço do desmatamento, identificar suas causas e responsabilizar os culpados. Ficou evidente que a queda de braço vai continuar e que pode servir para desgastar ainda mais a imagem do governo, principalmente porque as restrições impostas aos municípios que mais desmatam pode ser apenas placebo se não se avançar nas causas e na responsabilização dos culpados.

Não é difícil saber quem são os culpados pelo desmatamento, embora seja muito difícil entender sua lógica a não ser a de que no Brasil compensa desmatar ilegalmente. Difícil de engolir o questionamento de credibilidade do Inpe, mesmo porque o Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia – Imazon e Instituto Centro de Vida – ICV também fazem a análise do desmatamento no Mato Grosso mês a mês. Os números a cada período muitas vezes divergem, mas a soma de agosto a dezembro dos dados pelo Inpe e pelo Imazon é bem parecida. E o mais incrível é que ambas as análises concluem que houve diminuição no desmatamento nos últimos seis meses do ano de 2007 se comparado com o mesmo período de 2006, apesar dos números de novembro e dezembro do Inpe.

As causas desta possível nova onda de desmatamento é, no entanto, muito mais complexa do que analisar as imagens de satélite. O desmatamento foi por causa do retorno das condições favoráveis ao plantio de soja? Por conta do estímulo do governo federal ao agrocombustível? Da expansão da cana-de-açúcar? De uma migração dos cultivos? Da especulação fundiária e grilagem? As respostas não foram dadas e vão continuar assim se o governo federal não investir em analisar toda a cadeia produtiva rural.

Por outro lado, a responsabilização dos culpados é bem mais simples, em teoria. Com extrema precisão as imagens de satélite permitem saber onde foi desmatado e os órgãos estaduais e federal podem identificar os proprietários. Bastaria punir. No entanto, este é o elo mais fraco da corrente das políticas ambientais. Muitos são notificados, poucos são multados e quase ninguém paga multa. Imagine medidas mais drásticas...

* André Alves é secretário-executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad e membro do Núcleo de Ecojornalistas dos Matos - NEM

13 December 2007

Eike Batista é um empresário de visão?

Na semana passada, Eike Batista investiu R$ 1,6 bilhão, em 28 áreas de exploração de petróleo e gás, no Leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Alguns dizem que pagou caro, outros que é arrojado. Mas, foi negociando dessa maneira e colocando a letra “X” no nome da empresas, como símbolo da multiplicação, que ele dobrou seu patrimônio, avaliado hoje em US$ 15 bilhões.

Mas, ao observar melhor como seus empreendimentos são implantados é fácil perceber que a ousadia desse empresário se assenta em procedimentos um tanto inconseqüentes. Como um pirata trabalha com risco calculado e desrespeita os princípios de responsabilidade social e ambiental.

A Siderúrgica MMX, de Corumbá, já teve vários problemas com a justiça em função de seus escandalosos processos de licenciamento ambiental, chegando ser interditada por uma ação do Ministério Público Federal. O Ibama de MS autuou a empresa em um milhão de reais, por comprar carvão vegetal de um local sem licença, irregular, no meio do Pantanal e, para piorar, em área indígena. No Amapá, a MMX está sendo acusada pelo Ministério Público Federal (MPF) por danos coletivos. A empresa construiu sua usina no município de Pedra Branca do Amapari sem licença ambiental. A indenização pedida pelo MPF foi de US$ 35,7 milhões.

A última do empresário, é o investimento num porto de calado profundo em Peruíbe (SP) orçado em R$ 3 bilhões. O único detalhe é que a área fica no mesmo local onde a Funai pretende instalar uma reserva indígena. Quem será que vai ganhar? O empresário visionário ou os índios? Mas esses não são os únicos investimentos que esbarram nas questões sociais e ambientais, procure saber mais sobre os investimentos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

*Patrícia Zerlotti é jornalista, membro do NEM e coordenadora de projeto da ong Ecoa-Ecologia e Ação.