28 October 2008

Nas ondas do Pantanal


Conheça o primeiro programa de rádio Boca da Mata. No site www.dosmatos.org.br ouça e faça o download. Nesta edição abordamos aspectos gerais do Pantanal. Todo conteúdo é gratuito e pode ser divulgado em qualquer canal de difusão.

Aguardamos sua visita e sugestões de pauta. Semanalmente um novo programa será disponibilizado na página. As rádios da bacia do Paraguai estão recebendo o Boca da Mata pelo correio em CD. Se você conhece alguma rádio que queira divulgar o programa, deixe o endereço nos comentários do blog ou envie para ecomunicadores@gmail.com. Estamos realizando um levantamento das rádios do Pantanal para a veiculação.

Veja o conteúdo do Programa:

- Dedo de Prosa: O que é o Pantanal e onde se localiza?

- Campanha Queimada Mata!

- Cura do Mato: receita de mingau de jatobá

- O que são e qual a importância das áreas úmidas?

- Dedo de Prosa: o que é a bacia hidrográfica e como funciona no Pantanal

- Berrante notícias

- Dedo de Prosa: O planejamento da bacia do Alto Paraguai é bom para o Pantanal?

- Berrante notícias

- Alô: Tostão e Guarani, com a música João Boiadeiro

- Bônus: trailler da radionovela Coração Pantaneiro

Ouça em:

17 October 2008

Campanha promove Pantanal para Maravilha da Natureza



O Pantanal, representado pelo Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense (PARNA), concorre, com mais outros 200 sítios naturais, para ser eleito uma das 7 maravilhas naturais do mundo. O concurso é promovido pela entidade Fundação New7Wonders - www.new7wonders.com, a mesma que realizou a eleição das novas maravilhas monumentais do planeta. Os candidatos ao título de Maravilha da Natureza concorrem, em votação, internacional, pela internet até 31 de dezembro de 2008. Participe Vote Pantanal. Saiba mais pelo www.ecoa.org.br/votepantanal

02 October 2008

Que dó!


Flagra em frente de casa. Em Campo Grande (MS), a rua é lavada com água potável.

02 September 2008

Novas ondas no ar, estréia "Boca da Mata"

Está no ar o piloto de 4:50 min. do Boca da Mata - um programa de gente, bicho e planta. A idéia é do projeto Rádio Ecologia, do Núcleo de Ecomunicadores dos Matos (NEM), associação que reúne comunicadores ambientais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Cada edição terá 15 minutos com entrevista especial, notícias, dicas sobre alimentação, cidadania, saúde e educação ambiental. O Boca da Mata é uma das poucas iniciativas criadas para atender as demandas de rádios da bacia pantaneira.

O projeto é apoiado pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS) e financiado pelo Comitê Holandês da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN NL). Serão 32 programas semanais distribuídos por meio de CDs de áudio ou disponibilizados para download e uso gratuito por rádios das cidades pantaneiras e internautas. O projeto Rádio Ecologia também está fortalecendo a estruturação do Núcleo de Ecomunicadores dos Matos, que atualmente conseguiu seu registro como Organização Não-Governamental (Ong) em cartório.

Para saber mais sobre a iniciativa, visite o arquivo deste blog.


Clique no link a seguir para ouvir ou fazer o download do programa piloto Boca da Mata:

http://www.4shared.com/file/61517862/77df97ee/PILOTO_OK_128.html

Mais participação no ZSEE de Mato Grosso


O Boca da Mata – um programa de gente, bicho e planta, que estréia neste mês de setembro de 2008, divulga em suas primeiras edições o link da petição on line que pede mais participação social na elaboração do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso (ZSEE-MT). O Grupo de Trabalho Mobilização Social, que coordena a campanha, reivindica metodologias mais transparentes, representações paritárias e a presença do Ministério Público Estadual em todas as consultas e reuniões públicas. O documento será entregue à Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso. Para assinar e/ou ler a petição, visite www.petitiononline.com/gtms2008

28 August 2008

Pantanal: maravilha natural

O Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense está concorrendo ao título de uma das 7 maravilhas naturais da Terra. O concurso internacional é promovido pela mesma entidade (New7Wonders) que realizou a eleição das novas maravilhas monumentais do planeta, agora a escolha é das sete maravilhas da natureza.

Pela internet dê os seus votos. Acesse o link:
http://www.new7wonders.com/nature/en/nominees/southamerica/c/PantanalNationalPark/

Por continente escolha os sete lugares merecedores do título. Uma mensagem será enviada ao seu e-mail para que confirme os votos.

Do Brasil também concorrem os Lençóis Maranhenses, a Floresta Amazônica, o arquipélago de Fernando de Noronha, o Monte Roraima, o Parque das Cataratas do Iguaçu e o morro do Pão de Açúcar.


Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense:
Um mar de exuberância


Ninhal dos biguás. Refúgio da prole.

Cadeia alimentar: jacaré ao fundo quase imerso fica na espreita no ninhal
esperando a queda de um filhote de biguá

Vegetação da baía do Burro

Fião é gente pantaneira da Fazenda Manduvi.
Do tipo que chama onça desde criança.

12 August 2008

Terra para o povo Guarani

Basta de Genocídio: Pela Terra e Vida do Povo Kaiowá Guarani. Com essa frase de impacto, as comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul lançaram uma campanha em prol da identificação e demarcação de 36 terras indígenas no Sul de Mato Grosso Sul. O documento é um dos resultados da última Aty Guassu, (reunião grande), realizada na comunidade Sassoró, município de Tacuru, MS, no início de agosto.

Em novembro de 2007, uma força tarefa articulada pelo Ministério Público Federal (MPF) e por comunidades Kaiowá e Guarani obteve um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do governo federal que previa o início dos procedimentos de identificação das terras em 26 municípios da região. Recentemente, o assunto repercutiu na imprensa por causa da publicação, no dia 14 de julho, de seis portarias determinando a realização desses estudos antropológicos.

As reações contrárias às demarcações vieram em coro. Dentre as vozes, consta a do governador de MS, André Puccinelli (PMDB), parlamentares, prefeitos e entidades ruralistas. O principal argumento é o de que a identificação fere o direito à propriedade privada e geraria impactos negativos na economia de Mato Grosso do Sul, pois afeta uma larga faixa de terra produtiva.

A resposta do movimento indígena é a campanha Basta de Genocídio: Pela Terra e Vida do Povo Kaiowá Guarani. Os interessados podem assinar a petição que será encaminhada ao Presidente Lula ou colher assinaturas para o abaixo-assinado que está disponível para download no portal do CIMI – Conselho Indigenista Missionário (
www.cimi.org.br).


Seja mais uma voz nesse debate, leia e assine a petição. http://www.petitiononline.com/gkaiowa/petition.html

08 August 2008

A invenção da reserva ambiental

Andreia Fanzeres

Pode parecer um detalhe bobo, ver nos jornais expressões como “reserva ambiental”, reserva ecológica”, “unidade de proteção ambiental” me causa arrepios. Pior ainda quando elas saem da boca do ministro do Meio Ambiente. Aí, é caso perdido. Já faz um certo tempo que a imprensa devia estar acostumada a não se confundir com essas classificações. Justiça seja feita, nem sempre elas são fruto da ignorância de quem escreve, mas uma tentativa de simplificar conceitos para o público leigo entender. Cá com meus botões, eu tendo a acreditar que essa estratégia mais atrapalha do que ajuda.

Um exemplo. Num domingo qualquer, daqueles mais tediosos, zapeei os canais de televisão e parei quando ouvi o Faustão anunciar o espetáculo de um grupo de capivaras prestes a ser atacado por uma onça na “reserva ambiental” Taiamã, no Pantanal. Tudo registrado por um grupo de turistas que pescava no local. Se o apresentador ou sua equipe de assessores tivesse alguma noção do que haviam acabado de fazer, talvez mudassem o texto. Propagandearam em rede nacional uma atividade ilegal, contra qual os gestores ambientais da área lutam há décadas: a pesca não autorizada dentro da Estação Ecológica Taiamã, uma unidade de conservação federal onde só são admitidas atividades de educação ambiental e pesquisa científica devido ao alto grau de importância de sua biodiversidade.

Será que o público compreendeu, através do anúncio da “reserva ambiental”, que os turistas nem deviam estar lá dentro? Mas também será que se ele mencionasse a expressão estação ecológica, esse entendimento ia mudar?

Muito provavelmente, as respostas são não. A confusão de expressões quando a imprensa tenta falar de uma área preservada, ou que pelo menos de acordo com a lei deveria estar, é recorrente em quase todos os veículos de comunicação. Isso é reflexo do entendimento que o próprio público tem dessas áreas, e realmente não consegue distinguir as diferenças fundamentais de diversos tipos de categorias de proteção da natureza que o Estado dispõe.

Para evitar o erro e comunicar melhor, não tem mistério. O jornalista vai ter que sentar para estudar. Por pouco que seja. A legislação brasileira que define as características e os nomes de cada área é a que aprovou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, para os mais chegados. Qualquer pessoa pode encontrar tudo explicadinho num livro pra lá de fino nas melhores livrarias. Coisa de uma tarde de leitura, mas que é muito mais útil num ambiente de redação para consulta, quando surge a dúvida. Aliás, nesse livro não constam as expressões mais usadas por aí, como “reserva ambiental”, “reserva ecológica” e similares.

Mas para começar do começo, é preciso saber o que é uma unidade de conservação. Em poucas palavras, trata-se de uma área legalmente protegida e delimitada pelo governo (federal, estadual ou municipal) criada com o objetivo de conservar a natureza. Precisa de um plano de manejo (uma diretriz a qual os gestores devem seguir para que a área cumpra com seus objetivos específicos, estabelecida após a realização de pesquisas), de um conselho consultivo (geralmente composto por representantes dos gestores e comunidades direta ou indiretamente interessadas na existência da unidade), de uma equipe de profissionais, recursos materiais e, claro, de orçamento.

Este não vai virar um artigo didático ao ponto de explicar tim-tim por tim-tim cada tipo de unidade de conservação. Mas é bom saber que existem as unidades de conservação de proteção integral (que admitem apenas o uso indireto dos recursos em atividades com baixo impacto como turismo, recreação e pesquisas, por exemplo), cada qual com suas diferenças. São elas: Reserva Biológica, Estação Ecológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre.

Têm também as unidades de conservação de uso sustentável (que permitem, sob certas regras, o uso econômico da área e a presença permanente de moradores), como Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), esta última com a particularidade de não ser estabelecida em terras públicas. É o proprietário que voluntariamente pode declarar sua área como RPPN perante o governo, garantindo a preservação de seus recursos naturais.

É muito comum encontrar ainda confusões envolvendo Área de Preservação Permanente (APP) na imprensa. Essas são áreas que, sob nenhuma hipótese, devem ser degradadas, estejam elas dentro ou fora de unidades de conservação, como beira de rios, dunas, topo de morros, olhos d´água, etc. Tudo muito bem detalhado no Código Florestal Brasileiro, que existe desde 1965! Também outra leitura indispensável.

Para não dizerem que não falei das terras indígenas e quilombolas, elas também são legalmente delimitadas pelo governo, mas não têm o propósito de conservação da natureza. Não são consideradas unidades de conservação de acordo com a legislação vigente. Seu objetivo principal é assegurar a preservação cultural de quem as habita, embora muitas vezes mantenham grandes áreas em bom estado de conservação. Por isso podem ser chamadas apenas de “áreas protegidas”, apelido genérico que as unidades de conservação também podem receber.

O conhecimento mínimo dessas regras e diferenças nominais podem prevenir o público da desinformação que uma “reserva” solta no espaço, no meio do texto, provoca. É claro que a simples menção de que uma área é protegida, com sua classificação exata, é insuficiente para mostrar se o local está efetivamente cuidado. Muitas vezes, trata-se só de um rótulo. Mas sempre que for possível usar a expressão e explicá-la de maneira mais simples, tanto melhor à efetividade da comunicação. No dia em que público e jornalista compreenderem a importância de separar o joio do trigo na comunicação ambiental, as unidades de conservação multiplicarão aliados. Antes tarde do que nunca.

30 June 2008

Mídia e Sustentabilidade : por que não avançamos?

Adriana Nascimento e André Alves* - O assunto sobre os efeitos das mudanças climáticas para o ser humano saiu do mundo científico e ganhou a opinião pública através dos relatórios do IPCC (sigla em inglês para o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), de documentários como o do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, com o seu “Uma Verdade Inconveniente”, que ganhou dois Oscars, e do ator e produtor Leonardo Di Caprio, “A Última Hora”. A sociedade civil organizada também produziu documentários (Greenpeace) e publicações (Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais – FBOMS). Governos se preocuparam, em especial o Brasil, que acelerou seu programa de Biodiesel, e as empresas viram oportunidades únicas de negócios. Mas, a mídia, diante deste cenário, não poderia se calar. Porém...

Tanto a mídia de grande circulação, como as regionais, locais e as alternativas fizeram reportagens, publicaram artigos, capas de revistas como Istoé, Época e Veja detalharam o tema, ora retratando o alarmismo (que não é infundado), ora ouvindo especialistas que questionavam os efeitos nocivos das mudanças climáticas, em especial o aquecimento global, evento natural, mas acelerado como nunca nos últimos 100 anos, graças a emissão dos Gases do Efeito Estufa (GEE), dentre os quais o mais falado são o dióxido de carbono (C02) e o monóxido de carbono; porém o metano, etano e o óxido nitroso não devem ser desprezados, já que são mais agressivos no aceleramento do efeito estufa.

Apesar do bombardeio da mídia, parece que ela se esqueceu do fundamental. Duas ações são imprescindíveis para o planeta. A primeira é promover tecnologias e políticas públicas que promovam a mitigação da emissão dos GEE na atmosfera. A segunda, muito pouco divulgada, é que já vivemos na era da adaptação das mudanças climáticas. Ou seja, não basta saber dos efeitos (ou mesmo discutir quais serão estes efeitos) é preciso enfrentá-los. E isso a mídia, seriamente, não encarou o seu desafio e pressuposto democrático para ajudar a promover uma reação da sociedade.
O mais grave de tudo isso é que sabemos o motivo de tudo isso e que as tecnologias para enfrentarmos esta situação já existem ou estão em fase de aperfeiçoamento. O motivo é o modelo de desenvolvimento voltado para o consumismo impulsivo e supérfluo, em que os governos são incompetentes ou omissos, as empresas ignoram e a sociedade, apesar de esforços sente-se incapaz de enfrentar sozinha, o problema.
No campo político e econômico, sabemos que o modelo de desenvolvimento quase sempre (ou em maior ou menor grau) promove o boom-colapso em que as atividades econômicas estimulam o crescimento de algumas atividades econômicas, fazem cidades inteiras crescerem e em curto, médio ou longo prazo, ao exaurirem os recursos naturais dessas regiões, a atividade tende a migrar, reduzir ou até mesmo desaparecer. Deixando para trás prejuízos sociais, econômicos e ambientais incalculáveis. Quem conhece ou acompanha a Amazônia Legal sabe bem como isso funciona na atividade madeireira, na criação de gado, na produção de soja, na extração de minério. Nas cidades litorâneas, a atividade turística e a exploração dos mangues são outros exemplos. Na história, deveríamos ter aprendido com os ciclos do pau-brasil, do café, da cana-de-açúcar e do ouro. Ou seja, é importante que os municípios promovam melhor suas atividades econômicas, visando ordená-las de modo a garantir (ou tentar) garantir mais longevidade de suas atividades.

No campo político e tecnológico, é importante promover a inclusão de técnicas ambientalmente mais responsáveis: energia solar e eólica, a promoção de um verdadeiro programa de biocombustíveis, que atendam diversos setores da sociedade, e não o programa de “agrocombustíveis”, que beneficia grandes empresas, como a Petrobras, e os tão famosos latifundiários. É importantíssimo investir em transporte coletivo (ônibus, metrôs, trens) de qualidade e acessíveis para tentar controlar o impacto dos veículos automotivos no meio ambiente. Em Brasília, em qualquer ponto da cidade, é possível contar, em sequência, dezenas e mais dezenas de veículos ocupados apenas pelo motorista.

É preciso investir no consumo consciente, reduzindo o consumo desnecessário e a geração burra de lixo. Mc Donalds, Giraffas, Bob´s entre outras franquias insultam a inteligência e o bom senso ao proverem uma embalagem de papelão para o sanduíche (que uma vez engordurado perde seu valor para reciclagem), na embalagem plástica para o guardanapo, para a embalagem de papel para o canudo, para a tampa do copo de refrigerante e para o papel que recobre a bandeja, numa tentativa insana e ingênua de mostrarem assepsia dos seus produtos.

É preciso investir na coleta seletiva e na reciclagem de forma séria. O mercado da reciclagem no Brasil movimenta 9 bilhões de reais todos os anos e é fonte de renda para mais de 800 mil pessoas, que ganham, em média quatrocentos e cinqüenta reais por mês. No entanto, apenas 5% destes catadores estão organizados em cooperativas e apenas 327 cidades brasileiras fazem algum tipo de coleta seletiva, sendo que a grande maioria não ultrapassa 40% do município.

É preciso promover a economia em escala regional ou local, evitando o transporte de produtos de uma região para outra que poderiam ser produzidas facilmente em quase qualquer região. O exemplo mais clássico em Mato Grosso, seja em Cuiabá, seja em Lucas do Rio Verde, no médio norte ou em Porto Alegre do Norte, na região do Araguaia, vem do consumo das frutas e verduras que em sua grande maioria são provenientes dos estados de São Paulo, Paraná ou Goiás, atravessando mil ou dois mil de quilômetros em estradas péssimas, sendo que poderiam ser produzidas pelas milhares de famílias assentadas no Estado. Em Mato Grosso também, a própria população ignora os produtos nativos da sua região. Apesar disso, já é expressiva a reivindicação de produtores familiares e assentados para a produção e comercialização desses produtos. A Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, por meio de seu Programa de Aquisição de Alimentos – PAA estimula, ainda que timidamente, essa comercialização, garantindo que (ainda uma pequena parte) dos produtos da agricultura familiar seja consumida em escolas e creches da mesma região, garantindo, além de tudo, o fortalecimento da economia.

Enfim, apesar de todos os problemas, visitando alguns meios de comunicação especializados em meio ambiente ou em pequenas notas nos grandes jornais, é possível ver tecnologias simples como o uso de óleo de cozinha usado para motores de veículos, o uso de embalagens longa vida para produção de telhas, garrafas PETs se transformando em camisetas, vassouras e inúmeros outros produtos, várias experiências de reuso da água. Mais espaçadamente também é possível ver tecnologias de ponta sendo geradas, como o asfalto ecológico, os Green buildings, a Apple que patenteou baterias para os seus Iphone e Ipod recarregáveis com energia solar e o isopor, que muito em breve poderá ser reciclado.

Enfim, as empresas querendo e o governo estimulando, mas de forma séria, é possível acenar para um futuro menos catastrófico para todos nós. Mas... ainda temos tempo para esperar?

Adriana Nascimento é jornalista em Cuiabá, repórter do jornal A Gazeta, trabalhou na Agência de Notícias Ambientais Estação Vida, é membro-fundadora do Núcleo de Ecomunicadores dos Matos – NEM e membro da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais – RBJA.
André Alves é jornalista em Cuiabá, membro-fundador do Núcleo de Ecomunicadores dos Matos – NEM e membro da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais – RBJA. Atualmente exerce o cargo de Secretário-executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad

06 June 2008

Reciclagem: parte do problema ou da solução?

O mercado da reciclagem no Brasil movimenta 9 bilhões de reais todos os anos e é fonte de renda para mais de 800 mil pessoas, que ganham, em média, quatrocentos e cinqüenta reais por mês. As informações, que a primeira vista pode impressionar, são do Compromisso Empresarial da Reciclagem (Cempre). No entanto, apenas 5% destes catadores estão organizados em cooperativas e ínfimas 327 cidades brasileiras fazem algum tipo de coleta seletiva, sendo que a grande maioria não ultrapassa 40% da abrangência do município.

Com esta verdade, dois fatos muitos importantes precisam ser explicitados. O primeiro é que o Brasil, que se vangloria de ser o campeão em reciclagem de latinhas de alumínio, ainda tem muitos degraus a escalar para ser considerado um país que pratica a coleta seletiva, estimulando a geração de renda, fortalecendo a economia local e diminuindo a pressão da destinação da quantidade de lixo no meio ambiente. O segundo fato é que a coleta seletiva e reciclagem, embora deva ser incentivada e ampliada pela sociedade, empresas e governos, não é, nem de longe, a solução para a produção de lixo. Muito pelo contrário, indústrias e poderes públicos locais usam como estratégia de marketing o fato de muitos produtos serem recicláveis para negligenciar o enfrentamento do problema do excesso de desperdício na sociedade de consumo.

Quanto ao primeiro fato, é triste e até mesmo vergonhoso reconhecer que Cuiabá não possui um sistema mínimo de coleta seletiva. Muitas pessoas são enganadas ao verem espalhados pelo centro da capital cestos de coleta seletiva. Mas basta estar perto e ver que quando o caminhão do lixo passa, os lixeiros jogam a separação na vala comum: o próprio caminhão, que depois se direciona ao aterro sanitário (ou seria lixão?) de Cuiabá. Este fato desestimula o cidadão a separar seu lixo ou mesmo a cuidar onde vai jogar sua embalagem de refrigerante ou de água.

É claro que existem algumas iniciativas embrionárias de empresas que separam seus materiais descartáveis ou mesmo o convênio que a prefeitura estabeleceu com o Instituto Centro de Vida - ICV, que destina parte dos produtos orgânicos das feiras a ONG, onde também funciona uma cooperativa de produtores de composto orgânico, ou em outras palavras, adubo natural. Se a prefeitura faz isso, pode fazer muito mais, sem precisar reinventar a roda. Basta olhar o exemplo de cidades como Londrina, no Paraná, São José dos Campos e Santo André, em São Paulo, Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul ou Curitiba, capital do Paraná. Sem muito custo, é possível estimular cidadãos a separarem seus lixos em recicláveis e orgânicos, além de obrigar empresas, indústrias, condomínios, além do próprio governo local, é claro, a fazerem o mesmo. Para não onerar e estimular a formação de cooperativas de catadores, Cuiabá poderia ser dividida em regiões onde as cooperativas, cada uma em sua área, faz a coleta seletiva dos materiais recicláveis.

Em médio prazo, a solução se reverte em próprio benefício da prefeitura e da população. Os catadores ganharão mais dinheiro, a eficácia da coleta de lixo da prefeitura pode ser otimizada e até mesmo ter custo reduzido, a pressão no aterro sanitário diminui e ganha muito em tempo de vida útil, além de evitar a cena degradante dos catadores revirarem os lixões em busca de material reciclável para vender. Ganha o meio ambiente, ganha a saúde dos catadores, ganha a economia local, ganha a prefeitura. Numa escala maior, ganham todos. Sem isso, Cuiabá corre um grave risco de se tornar, não num futuro muito distante, uma nova Náploles, na Itália.
Voltando ao outro ponto: a coleta seletiva e a reciclagem, sozinhas não são solução de nada. Sem correr o risco de as empresas não terem produtos para reciclar ou os catadores não terem produtos para vender, é preciso investir muito na redução da cultura do desperdício. Exemplo já conhecido de todos, mas que a sociedade, em grande escala ainda não chegou ao nível da consciência necessária para refutá-los veementemente, está no lixo inútil provocado na alimentação. Mc Donalds, Giraffas, Bob´s entre outras franquias insultam a inteligência e o bom senso ao proverem uma embalagem de papelão para o sanduíche (que uma vez engordurado perde seu valor para reciclagem), na embalagem plástica para o guadanapo, para a embalagem de papel para o canudo, para a tampa do copo de refrigerante e para o papel que recobre a bandeja, numa tentativa insana e ingênua de mostrarem a assepsia dos seus produtos.

Este foi só um exemplo, que se repete nos mercados com produtos embalados em cada vez menor quantidade, em suportes de isopor e nas intermináveis sacolinhas de mercado, que se depender da vontade do gerente, põe um produto em cada sacola. Para uns, isso é agregar valor ao produto e fixar a marca. Na prática, é desperdício de dinheiro, de recursos naturais finitos e de um problema sem fim às administrações públicas, à saúde, à economia e, claro, ao meio ambiente.

Ou seja, já passou da hora de Cuiabá, Mato Grosso, a região Centro-Oeste ou mesmo o Brasil investir ao mesmo tempo na coleta seletiva para a reciclagem e na redução da geração de desperdício. Não existem argumentos lógicos ou com bom senso que digam o contrário. Ou enfrentamos o problema que nos afeta em todos os setores da sociedade ou seremos engolidos pelo lixo. Assim como Nápoles. Isso para ficar no exemplo real. Ou numa visão ficcional e catastrófica, mas bem humorada, mostrada no filme Idiocracia, onde o consumismo ingênuo é o responsável pela destruição da civilização, tal como nós conhecemos.

* André Alves é jornalista em Cuiabá, Secretário-Executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento - FORMAD e membro-fundador do Núcleo de Ecomunicadores dos Matos - NEM.

28 May 2008

Jornalistas do Pantanal criam serviço gratuito para rádios e internautas

Imagem: Salvador Dali

Os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e, especialmente, o Pantanal acabam de ganhar novos aliados na defesa da natureza: jornalistas profissionais e comunicadores ambientais do NEM (Núcleo de Ecojornalistas ou Ecomunicadores dos Matos). Criado em 2005 por jornalistas dos dois Matos Grossos (MT e MS), o NEM acaba de lançar um projeto inovador de comunicação socioambiental para a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP). A idéia é democratizar informações socioambientais que promovam a cidadania ecológica e a melhoria da qualidade de vida das populações do Pantanal.

Com apoio da União Mundial para a Conservação da Natureza da Holanda (IUCN NL) e do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), o projeto "Rádio Ecologia: uma ferramenta educacional para promover a qualidade de vida na Bacia do Alto Paraguai" vai disponibilizar 32 programas radiofônicos temáticos para municípios da bacia pantaneira (BAP). O novo serviço de comunicação ambiental é gratuito e voltado para rádios e organizações que utilizam a internet como ferramenta de trabalho e educação ambiental.

O projeto

O projeto foi uma das propostas vencedoras do edital Ecosystems Grant Programme (EGP – Programa de Financiamento para Ecossistemas) lançado em 2007 pela IUCN NL. Com duração de 14 meses e apoio financeiro de 53.669 Euros, o NEM vai produzir o programa radiofônico Boca da Mata, que divulgará conteúdos informativos, de educação ambiental, cidadania, utilidade pública e também a primeira radionovela ecológica do Pantanal. Toda semana, rádios da bacia pantaneira receberão os programas e poderão divulgar os conteúdos sem qualquer custo. Internautas e rádios de outras localidades que se cadastrarem no site do NEM (em construção) também poderão fazer o download e utilizar os conteúdos gratuitamente.

"Nossa expectativa é que as demandas por informações ambientais, principalmente de rádios dos municípios do Pantanal no Brasil, Bolívia e Paraguai, sejam atendidas com este novo serviço de comunicação", afirma o coordenador-geral do projeto, Allison Ishy. Segundo um mapeamento realizado pelo Programa Pantanal do Ministério do Meio Ambiente o rádio é o veículo de comunicação com maior alcance na região pantaneira e a maioria das emissoras tem interesse em receber e divulgar informações ecológicas.

Uma das vantagens para as rádios que utilizarem o novo serviço são os conteúdos já finalizados profissionalmente em linguagem radiofônica, além da permissão de reprodução total ou parcial das informações, o que dá maior liberdade aos veículos de comunicação. O programa Boca da Mata também pretende ser um serviço de utilidade pública em educação, saúde, cidadania e meio ambiente voltado para os pantaneiros e população da BAP.

O NEM

O Núcleo de Ecojornalistas ou Ecomunicadores dos Matos, atualmente formado por oito membros dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também será estruturado com o Projeto Rádio Ecologia, criando sua personalidade jurídica, estatuto, regimento interno e devendo funcionar como uma Organização Não-Governamental (Ong). O NEM é a primeira organização de jornalistas e comunicadores ambientais criada na região.

Além de promover o intercâmbio, troca de experiências e desenvolver projetos de jornalismo e comunicação socioambiental, o núcleo está convidando artistas, poetas, fotógrafos, ilustradores e chargistas, além de educadores e lideranças que atuam com a comunicação socioambiental nos Estados para serem membros da organização.

Universidades, sindicatos, Ongs, instituições de pesquisa e governamentais também serão convidadas para serem parceiras do núcleo e de suas atividades.

A criação do NEM ocorreu em Santos (SP) durante o I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (2005) com apoio do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), que também é o proponente do projeto "Rádio Ecologia: uma ferramenta educacional para promover a qualidade de vida na Bacia do Alto Paraguai".

Mais informações

Para saber mais sobre o serviço de comunicação socioambiental as rádios ou internautas poderão solicitar informações pelo e-mail: ecomunicadores@gmail.com


Por Allison Ishy, coordenador-geral do Projeto Rádio Ecologia (NEM / NEJ-RS / IUCN NL)

E-mail para contato: ecojornalistapantanal@gmail.com

30 April 2008

O caos das águas da jovem Morena


Quando as nuvens cinzas cobrem o céu de Campo Grande, a capital do Mato Grosso do Sul, o prefeito Nelsinho Trad já sabe que terá dores-de-cabeça. O sistema de drenagem da cidade não está agüentando a velocidade das águas que correm pelas ruas largas. Na região do córrego Prosa, área da cidade que dá acesso ao shopping, órgãos públicos do governo e parques instaura-se a cada chuva um caos imediato e surpreendente pela rapidez de sua materialização. Assim como nas regiões mais periféricas, em que o grande problema são as voçorocas abertas em minutos pela força das enxurradas.

Na última terça-feira, 29 de abril, na região do Prosa, em menos de dez minutos do início da chuva, as ruas já estavam completamente alagadas, os bueiros jorrando água como extintores desgovernados e as ruas assemelhando-se aos rios de águas velozes. Uma situação que causa medo de sair de casa quando as nuvens se anunciam. Após cada chuva, a prefeitura da cidade recomeça as obras de contenção das águas, que desde o início do verão vem sendo implementadas. A sensação é que o dinheiro público desce rio abaixo e enche o mar do mal planejamento ambiental do espaço urbano.

Desta vez, a chuva não durou mais de meia hora na capital e as águas dissiparam-se em direção aos córregos que deram conta de escoar a chuva torrencial. A mesma sorte não teve o aposentado Dionísio Ferreira que, ao voltar do trabalho em sua bicicleta, dia 1 de abril, foi surpreendido por uma tempestade que durou cerca de 1h50. A força da água foi tanta que levou parte do asfalto e prendeu a perna do aposentado. Ele não conseguiu se livrar e morreu afogado em plena rua. Foi a primeira vítima da drenagem mal elaborada.

Cenas de um caos urbano que marcam o passado e o presente desta jovem cidade, ainda com ares de interior, nascida na confluência dos córregos Prosa e Segredo, em 1872. Seu crescimento deu-se de forma radial, no sentido das nascentes dos pequenos córregos. Assim, sobraram poucas matas ciliares, hoje vias rápidas para os carros e para água. Cenário agravado pelo calçamento e desmatamento no perímetro urbano.

Mas isto não é novidade, o campo-grandense está acostumado a ver na tela da TV as intempéries em outras regiões do país como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas em uma moderna cidade que cresceu à luz das leis de uso ocupação do solo...O que será de Campo Grande com um milhão de habitantes? Hoje são pouco mais de 720 mil. A população ainda se gabará de sua "qualidade de vida"? Terá vencido o desafio de diminuir sua frota de veículos, que está entre as maiores do país? Terá deixado de calçar cada milímetro dos quintais para esconder a terra vermelha que dá lhe o apelido de cidade Morena?

Desejar a seca poderá ser o futuro do campo-grandense. Mas o que será pior: as queimadas insolentes responsáveis pelas filas intermináveis nos postos de saúde na época da seca? Ou a insegurança urbana, conseqüência de uma drenagem ineficaz, agravada pelo calçamento do solo? O prefeito tem mesmo com o que se preocupar, das chuvas poderá esquecer por um tempo, a seca está chegando e com ela as queimadas. Então, já teremos esquecido o caos das águas e desejaremos as chuvas do próximo verão...

Yara Medeiros é jornalista e membro-fundadora do Núcleo de Ecojornalistas dos Matos

15 April 2008

Pantanal sentenciado


Carvoaria irregular autuada no município de Jardim em 2007. Foto: Polícia Militar Ambiental






Decisão judicial vai contra realidade dos fatos
A falta de planejamento, de diálogo e responsabilidade socioambiental se fez presente mais uma vez em Mato Grosso do Sul, quando a Justiça estadual autorizou o não cumprimento do Termo de Compromisso e Conduta (TCC). Com ele ficou proibida a compra de carvão vegetal de sete municípios localizados na Bacia do Alto Paraguai (BAP) - Corumbá, Ladário, Miranda, Bodoquena, Bonito, Jardim e Guia Lopes. É inaceitável que em 2008 uma decisão judicial coloque o Pantanal em risco. Ainda mais porque, há quatro anos, a perda da sua vegetação nativa vem sendo anunciada.

Os alertas de que o Pantanal está perdendo sua vegetação nativa começaram em 2005, com um estudo da Conservação Internacional (CI). A publicação anunciava a possibilidade do Pantanal acabar em 45 anos. Pareceres de 2006 da Embrapa Pantanal, do Ministério Público Federal e os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) realizados pelas empresas, com a finalidade de adquirir as licenças ambientais, evidenciavam que haveria uma pressão sobre a mata nativa. Neste ano, a CI revela, em novo estudo, que além de faltar carvão vegetal para atender a demanda das siderúrgicas de MS, o produto está sendo contrabandeado da Bolívia e Paraguai.

Parece que todas essas informações não são suficientes para alertar nossos governantes. Pois uma boa iniciativa entre órgãos públicos voltados a gestão ambiental não é respeitada, é simplesmente ignorada. Embora o TCC não resolva todo o problema, pois cerca de 80% do carvão produzido é vendido para Minas Gerais, nos últimos meses ele vem contribuindo para conter o desmate direto no Pantanal e na Serra da Bodoquena. Mas esta é uma primeira ação, só o começo, onde os outros setores deveriam agregar para tornar a iniciativa cada vez mais efetiva e não o contrário.

“É necessário que todos os setores ampliem sua visão para além do lucro e da produção. É preciso que todos tenham uma visão integral do ecossistema e reconheçam que a vegetação nativa do Pantanal e da Serra da Bodoquena está virando carvão e que esta perda trará prejuízos para muitos, praticamente todos”, afirma Patrícia Zerlotti, jornalista e coordenadora de projetos da Ecoa.

Alessandro Menezes, presidente da Ecoa, explica que a legislação atual não é aplicada ao Pantanal. “Um exemplo que deixa claro esta discrepância é o Código Florestal, que se for seguido a risca, classifica toda área alagável da região como Área de Preservação Permanente (APP). Ou seja, nenhuma atividade econômica poderia ser desenvolvida. Devido a este cenário é preciso uma legislação específica para o bioma. As interpretações que se fazem hoje da lei são baseada no Código Florestal, o que acarretam em vários equívocos que geram prejuízos ambientais, sociais e econômicos”.

ONGs e o desenvolvimento responsável
É importante ressaltar que as organizações ambientais que atuam no Pantanal não são contra o desenvolvimento econômico como é colocado pelo escritório de advocacia Vanessa Lopes, na notícia veiculada no site O Eco, no dia 11 de abril. As organizações, apenas, trabalham para que a legislação ambiental seja respeitada e que a economia se desenvolva em equilíbrio com as demais necessidades, ou seja, sem degradar o meio ambiente e prejudicar a população.

Outra iniciativa que demonstra a seriedade das organizações ambientais com o desenvolvimento econômico da região é o diálogo entre ongs e empresas de mineração e siderurgia de MS. Este processo mostra que as ongs não são contra o desenvolvimento e o progresso como dito por aqueles que não compreendem o significado do desenvolvimento sustentável na prática.

Confira os estudos mencionados no texto e outras informações no site www.ecoa.org.br

31 January 2008

A farra do desmatamento

Há tempos a mídia estava ávida pelos dados que o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) divulgou na semana passada. O desmatamento voltou a correr solto na Amazônia. Junte-se a isto a convocação imediata pelo presidente Lula para debater o assunto e as medidas anunciadas pelo Ministério do Meio Ambiente para controlar de forma mais rígida os 36 municípios (19 em Mato Grosso) responsáveis por 50% do estrago na Amazônia, que foram mal interpretadas por boa parte da mídia e dos ruralistas. Pronto. Temos o cenário perfeito para confusões e ataques.

O primeiro a esbravejar foi o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, questionando os números divulgados e a credibilidade do Inpe e acusa o governo federal de querer só ver a culpa nos produtores rurais. Lula por sua vez acusa o Inpe e o MMA de terem se precipitados e diz não ser possível culpar ninguém pelo desmate. Já a ministra Marina Silva, que sobrevoou com Maggi e outros ministros algumas das áreas devastadas em Mato Grosso, afirma que a situação é preocupante.

A troca de acusações e o jogo de empurra tiraram da discussão o que deveria ser o seu centro. Como conter o avanço do desmatamento, identificar suas causas e responsabilizar os culpados. Ficou evidente que a queda de braço vai continuar e que pode servir para desgastar ainda mais a imagem do governo, principalmente porque as restrições impostas aos municípios que mais desmatam pode ser apenas placebo se não se avançar nas causas e na responsabilização dos culpados.

Não é difícil saber quem são os culpados pelo desmatamento, embora seja muito difícil entender sua lógica a não ser a de que no Brasil compensa desmatar ilegalmente. Difícil de engolir o questionamento de credibilidade do Inpe, mesmo porque o Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia – Imazon e Instituto Centro de Vida – ICV também fazem a análise do desmatamento no Mato Grosso mês a mês. Os números a cada período muitas vezes divergem, mas a soma de agosto a dezembro dos dados pelo Inpe e pelo Imazon é bem parecida. E o mais incrível é que ambas as análises concluem que houve diminuição no desmatamento nos últimos seis meses do ano de 2007 se comparado com o mesmo período de 2006, apesar dos números de novembro e dezembro do Inpe.

As causas desta possível nova onda de desmatamento é, no entanto, muito mais complexa do que analisar as imagens de satélite. O desmatamento foi por causa do retorno das condições favoráveis ao plantio de soja? Por conta do estímulo do governo federal ao agrocombustível? Da expansão da cana-de-açúcar? De uma migração dos cultivos? Da especulação fundiária e grilagem? As respostas não foram dadas e vão continuar assim se o governo federal não investir em analisar toda a cadeia produtiva rural.

Por outro lado, a responsabilização dos culpados é bem mais simples, em teoria. Com extrema precisão as imagens de satélite permitem saber onde foi desmatado e os órgãos estaduais e federal podem identificar os proprietários. Bastaria punir. No entanto, este é o elo mais fraco da corrente das políticas ambientais. Muitos são notificados, poucos são multados e quase ninguém paga multa. Imagine medidas mais drásticas...

* André Alves é secretário-executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad e membro do Núcleo de Ecojornalistas dos Matos - NEM